Corria o ano de 1995, havia um ano que levara a família para morar no Recife, e igual tempo que frequentava o Aeroclube do Encanta Moça, onde, depois, foi edificado um "shopping center".
Aos sábados, muito cedo, lá estava eu, na companhia de um dos filhos, para cultivar uma paixão comum: voar. Sob o comando de alguns instrutores, de pilotos privados de aeronaves particulares e de proprietários de ultraleves os mais diversos, seguíamos nós pelos céus da Mauriceia rumo a Olinda e adjacências com um olho nos céus e o outro no marcador de combustível, afinal, tanque cheio era raridade, em face do "liseu", um fiel companheiro.
Havia lá uma oficina muito famosa, onde "Seu" Manoel atendia à necessidade de gente de todo o Nordeste, em busca de solução para problemas nas aeronaves. Era um mecânico super versátil e sua equipe capacitada/treinada para fazer de tudo um pouco.
Nessa época, conheci o comandante Alduíno, de saudosa memória. Era, então, major-dentista da Aeronáutica, e trabalhava, se não estou enganado, no Hospital da Aeronáutica, no bairro Piedade. Como passageiro, voei muitas vezes nos Aero Boero, de instrução, ocasiões em que ele me dava dicas sobre o que diz respeito à meteorologia, tráfego aéreo e outras coisas mais, de modo que eu pudesse levar o aviãozinho para pouso, no caso de ele passar mal. Às vezes, passava para mim a navegação, retomando alavanca (manche), pedais e manetes já na final para pouso.
Numa bela tarde de sol, a oficina anunciou a conclusão da manutenção de um bimotor e convidou o comandante Alduíno para o teste, realizado, como de costume, sobre o mar das praias ao norte. Com um copiloto igualmente brevetado, claro, lá fomos, além da tripulação, eu, meu filho e um dos filhos dele, para algo em torno de 10.000 pés (3 kms), aproximadamente, onde foram realizadas várias manobras, entre as quais um estol de asa, operação em que é simulada uma queda da aeronave por perda da propulsão dos motores com simultânea inclinação para que o "efeito faca" seja sentido. Fantástico, para dizer pouco.
"Aventuras" de um passado já distante e do qual sinto saudade. Muita!
O comandante Alduíno, dez anos depois, mais ou menos, numa viagem de fim de semana, com a família, entre o Rio de Janeiro e Porto Seguro, foi traído pelo mau tempo sobre o litoral capixaba, a aeronave caiu no mar, e a tragédia, infelizmente, foi fatal para todos. Que descansem em Paz.